terça-feira, 10 de julho de 2007

Nota de falecimento

Placa GLR 2727, Brasília azul celeste, alto-falante monofônico sobre o teto e um possível caminho de uma meia centena de bairros. Diante dos diferentes meios de comunicação em massa, encontrei e convivi com um tipo de propago, considerado tradição na minha terra natal, a cidade à beira do Rio Tijuco, onde este divulga notas de falecimento. Curioso, fui conversar com o condutor e locutor do veículo, Valter Valadão.

Após contatarem a funerária – aqueles que possuem condições para isto – o cidadão recorre ao propago, informando os lugares onde deverá comunicar a nota de falecimento do parente ou ente querido, e o lugar que o corpo estará sendo velado. Apesar do carro ser único na cidade, basta escutar o início da nota e as pessoas já ficam atentas, dependendo do local, pode-se ouvir o som a alguns quilômetros. O serviço é usado praticamente por todos da cidade, e apesar de existirem leis que impedem a circulação de propagos em algumas ruas e horários, o veículo tem livre acesso. Também, não há nenhum preconceito ou proibição religiosa. Valter conta que o meio de divulgação é tradição na cidade à aproximadamente 50 anos ou mais, no qual ele está a 41 anos no ramo. Algumas cidades da redondeza já “copiaram” a idéia, mas acredito que uma tradição é construída durante anos.

Existem brincadeiras de mau gosto sobre o serviço, e até mesmo com o próprio locutor. O que gera um desconforto. “Divulgar uma nota de falecimento é um trabalho que exige muito respeito e profissionalismo. Estou lidando com o sentimento das pessoas.”, esclarece Valter. Alguns podem até achar “engraçado” esse tipo de comunicação e fazerem piadas, mas como foi citado, é uma tradição, e acreditem, diante da única certeza dessa vida, um dia vamos precisar dele.